"Nenhum ser humano é capaz de esconder um segredo. Se a boca se cala, falam as pontas dos dedos..."(Freud)

segunda-feira, 24 de março de 2008

Entre um rio e o ar

Difícil falar com ela quando está assim. Fica cheia de dedos, desconfiada. Fica falante e desconexa, sempre que está tentando fazer sentido – e só tenta fazer sentido nestas horas – e possessiva.
Fica acuada, fica mordida, fica tão, tão... feminina. Fútil, agressiva, chorosa, falante, voraz, desistente. Não definitivamente não é o normal.
Querem saber? É puro ciúmes. Não de algo ou alguém, especificamente. Fica assim tão somente pelas sensações análogas ao ciúmes (de perda ou prejuízo, similares às de um namoro arruinado) provenientes da privação de sua liberdade. Uma águia deveria sentir-se assim, caso cortassem suas asas, pensa. Ciumenta dos ventos que passam por ela e não a podem levar, dos outros pássaros que voam, livremente sobre sua cabeça, a afrontá-la. Ciumenta, agredida. E, quanto mais se bater para voar, mais balbúrdia vai fazer, perderá a compostura e menos águia será, conquanto sua imponência tenha sido o que lhe restou de águia.
Sensações e expressões nada coerentes, nada construtivas, nada de nada.

E, de tanto nadar (vai ver é isto) virou um peixe.

sábado, 1 de março de 2008

Limpando o quarto

Limpando o quarto, encontramos de tudo: trabalhos antigos, provas guardadas, fotos perdidas, cartas escritas e nunca entregues, cartas recebidas e esquecidas... Mas o que mais mexe comigo é encontrar alguma coisa que eu tenha escrito - quando ainda gostava de escrever poemas - e sentir a mesma sensação de quando escrevi. Estes sentimentos intrusos são dolorosos e deliciosos, paradoxos como a saudades: doí mas é tão bom! Se não fosse, por que raios continuaríamos a guardar fotos e cartas antigas e, pior: a revê-las de tempos em tempos?
Pois eis que aí está o resultado da minha última faxina em meus papéis: coisas que escrevi e nunca assumi (ao menos não publicamente). Nenhum poema que eu possa vir a publicar foi escrito depois dos 17 anos completos, portanto, de antemão os advirto que não há relação alguma comigo. Penso que concordem que, passados alguns meses, rejeitamos o que escrevemos ou, no mínimo, fingimos que não está aí. Escrevemos cada dia mais na esperança de que ninguém tenha paciência para descer o mouse em direção ao fim do blog e - ora - não é que funciona? O problema é que quanto mais escrevemos, mais temos que suprimir com outros textos, e cosi via, não pára mais.
O que pretendo com isto? Mascarar minha total falta de vontade de escrever com as coisas que já escrevi. Simples assim.
Para escrever poemas é necessário uma pitada de tristeza, outro tanto de dor. Talvez um amor arrebatador - que só pode sê-lo enquanto platônico ou recente - possa substituir a dor e a tristeza, propriamente ditas. Mas, no estado em que estou, nem dor, nem tristeza e nem amores arrebatadores estão à vista, apenas, como diria Cazuza, "a sorte de um amor tranqüilo". Isto é maravilhoso para os meus nervos, mas confesso uma saudade impertinente da poesia...

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De poeta e de louco....

O poeta é um louco
De uma loucura passageira
Que, embora ele queira
Às vezes não passa...

Não importa o que faça,
Jamais vira gente,
Por mais que ele tente,
Poeta é outro ser...

...só sabe escrever.