"Nenhum ser humano é capaz de esconder um segredo. Se a boca se cala, falam as pontas dos dedos..."(Freud)

quarta-feira, 21 de março de 2007

A Comodidade que vem do Tempo

Com o passar do tempo, nos tornamos ‘urnas’ repletas de significados. No início da vida (principalmente até o início da adolescência), tudo nos parece interessante, fascinante e, até mesmo, assustador. Inúmeras situações são capazes de provocar em nós ‘frios na barriga’. Mas com o passar do tempo, tendo já vivido diversas experiências, estas passam a repetir-se e já não nos assustam, nem nos exortam a buscar novas soluções. Muitas vezes, ao invés de nos agitar, de provocar-nos a vivê-las com a intensidade pertinente à agitação que anteriormente nos provocavam, nos trazem lembranças de momentos anteriores. Algumas vezes lembranças nos fazem ficar em silêncio por segundos (ou não), e não raras vezes disfarçamos para não dividi-las com que está por perto. Sem dúvida, o ar de mistério que acaba por se formar devido a tantos pensamentos, lembranças, fatos e significados, é o grande responsável pela alteração no semblante de uma pessoa, em sua maneira de expressar-se, de sentir, de sorrir, de viver.

Ao invés de pensar que estamos envelhecendo, penso que estamos, aos poucos, enchendo nossa ‘urna’, tornando-nos plenos de significados e conteúdo, de razões e entendimento. Ao invés de fugir do tempo e de sofrimentos (que é quase como ‘secar gelo’), por que não aproveitamos as experiências que nos são dadas e tratamos de preencher-nos com cuidado, sorvendo cada gota que se acrescenta às nossas experiências? Mas não com a indiferença com que se toma algum remédio por obrigação, apenas por que não há nada que se possa fazer para evitá-lo, mas sim, com a delicadeza e atenção com que se degusta um doce (ou vinho, não deixemos de analisar a proposta por erro de metáfora, por favor). A vida pode sim (e deve!) ser tratada como uma experiência fantástica e intrigante, e não como uma obrigação penosa. Tomar esta atitude depende única e exclusivamente de cada um. Difícil? Não se pudermos pensar que toda a caminhada começa com um único passo...

Depois deste texto, ai de quem me vier dizer que “a vida não é um docinho”...

 

Louco... um pouco.

O poeta é um louco
De uma loucura passageira
Que, embora ele queira
Às vezes não passa...

Não importa o que faça,
Jamais vira gente,
Por mais que ele tente,
Poeta é outro ser...

...só sabe escrever.

terça-feira, 13 de março de 2007

Heterônimos

Uma bela paisagem não se afeta com os pensamentos existentes por trás de olhares que se lançam a ela. Vento, sol e chuva, ou então ações de vontades contidas em pensamentos sim, estes podem alterá-la, contando que tenham poder para isto.

Amigos: belos e fugazes olhares, sem poder algum... apenas meros e intrigantes olhares, que afetam a paisagem dentro de suas parcas possibilidades... que apenas a enaltecem conquanto tentam modificá-la por simples desejo de não passar, de deixar de ser olhar, e ser paisagem... (Dorilys)

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De quantos beijos necessitamos para ser rosa?
E quantos elogios são necessários, para que não nos caiam as pétalas?

Com quantas mãos, sorrisos e olhares se faz uma imagem?
E quantas pedras, escarros e lágrimas são necessárias para desfazê-la?

De quantos heterônimos necessitamos para sermos livres?
E qual a dose de realidade é necessária, para que não nos escravizem?

De quantas estrelas necessitamos para que não nos falte brilho?
E quanto devemos brilhar, para sermos estrelas?

(Dorilys)

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Iluminar passos de quem a cerca,
Manter suavidade de flor,
Manter-se imagem diversa
Daquela que vive em dor.

Sorrir aos lábios que escarram
Afagar a mão que apedreja
Fingir que não vê e não sente
O veneno da boca que beija...

Revezando pessoas e faces
Morrer aos poucos, sorrindo
Não crendo que lhes apraza

Que a luz se lhe vá esvaindo
Até que as palavras e cores
Se lhe acabem de todo extinguindo.

(Sophia)

Não Importa

Viver... deixar-se levar pela torrente furiosa do tempo,
Onde não se sabe se é sonho ou dia,
Se é chuva ou se há vento..

Viver.. e se deixar ser vivido, sem mágoas, nem escrúpulos
Pois não há noite que sempre dure,
Nem dia, que não se acabe no escuro...

Sentir... não esperar, não buscar, não correr
Não deixar de sofrer, e nem calcular
Há a medida certa para o que acontecer...

Partir... não pensar, deixar o que quer que for
Pois, as lembranças, o que fica pra trás
É o que faz ser eterno o amor.

quinta-feira, 8 de março de 2007

Quem sou.

Busco entender e conhecer o que vejo, as coisas que sinto, as pessoas que beijo e as razões por que minto... Se mergulho ou se água está fria, se o rio é raso ou se é muito fundo, se vivo a vida a divagar fantasias, ou se acordo e as trago a meu mundo... Se sucumbo e então desfaleço, se supero e então me refaço... não sei se penso ou se sinto, não sei se fico ou se passo... Se transcrevo o que me descreve, se me inspiro com isto e crio, se minha alma se enche e escreve, ou se a inveja me invade e copio...
Procurando voltar a ser o que sentia, a ver o que ouvia, escrever o que respirava, a sorrir como me perdia... Descobri, encontrei, cresci... e enquanto girava o mundo, ao pensar que evoluía, caí... ao imaginar como seria, perdi... ao perceber que vivia, morri...
Buscar ou desistir? Se buscar, perceber, pedir e procurar uma nova forma de encantar-se em existir... Perder horas vendo o céu refletir o mar, que está a quilômetros daqui... se buscar, dividindo somar, tudo o que de bom há em mim, e, só assim multiplicar, o que em mim é de mim tão desigual... reunir o que sou, disperso em quem sou, esquecendo o que é ter, para poder fazer com que haja o que faz valer a pena... Sentir que o vento não é só vento, que ainda sou filha da lua, escrever flores e sorrisos, tapetes macios e doces enganos... Entender o que vêem se me vêem, ou se apenas olham. errar.... e começar denovo... começar... e errar denovo... ou não. Ser clara enquanto dispersa, entendida se estiver submersa, para ser salva, denovo e denovo... Vislumbrar prazeres infindáveis, como as formas da natureza, nas próprias formas da natureza, que à minha alma, há de emprestar a beleza, que outrora, em viver residia e, que, ao acordar, encontrava. Se buscar, reaprender e decidir, assumir e escolher, entre a prosa e a poesia – metáforas de todas as decisões.
Depois de tudo, desistir? Desistir...
...é apenas passar.

Inércia

Ops, acho que acabo de desperdiçar um título promissor. Mas por que eu comecei pelo título, se o título deve ser a última coisa a ser escrita? Ora, porque não tenho o hábito de fazer as coisas da forma convencional. Não é que eu queira ser “do contra”, mas é que este é um hábito que já me é pertinente.
Pois bem, falo da inércia por que estava com vontade de escrever, mas sem saber por onde começar, então, apenas comecei. Desta vez pretendo um assunto novo, porque acho que já chega de escrever o epitáfio do meu amor...
Quem gosta de escrever, geralmente precisa que o que se escreve seja definitivo e claro, que seja algo inteligível (mas não de todo... sem subjetividade perde a graça...) e agradável, para que seja divertido a quem quer que o leia. No meu caso, esta passou a ser uma necessidade vigente desde o advento do blog; antes disto, apenas escrevia pelos motivos de Clarice Lispector, por ser a escrita um vício penoso, que no fim das contas é uma salvação, pois salva a alma presa e o dia que não se entende, a menos que se escreva...
“Quando não se tem mais nada, não se perde nada...” (Mantra – Nando Reis). Já me sinto livre de certos receios, de certos medos que sustentar algum estereótipo (ou vários) traz. Talvez esta “liberdade” seja o que me impede de escrever com maior freqüência. Muitos dos que anteriormente seriam promissores motivos para um texto já passam por mim sem que eu os perceba, ou melhor, sem me tocar com força suficiente para que eu sinta a necessidade de extravasar meu interior. Talvez esta recente inexorabilidade faça parte da minha própria evolução, assim como sua perda fez parte da evolução de um menino “conclusivo” (link).
A despeito da escassez de razões para escrever, a necessidade de me expressar “.doc” ainda vigora. Pois então, resolvi escrever sobre escrever, e apenas uma coisa separa meu texto, que já há alguns dias espera que eu pare de abri-lo para fechá-lo em seguida, de sua conclusão: um final, no mínimo, conclusivo.
... Que tal “fim”?

segunda-feira, 5 de março de 2007

Já que...

(Este texto estava apenas aguardando coragem para ser postado. Depois de um ano de escrito, ei-lo aqui...)
Tenho fama de boa leitora, mas não é por nenhuma razão “cultural”, é apenas um vício, como qualquer outro; é um destes vícios permitidos e estranhamente comuns, destes que cada um tem o seu. Pois não é que, gostando tanto de ler, e já tendo lido de tudo um pouco, não consigo escrever nada que possa dizer que leria? Infelizmente é verdade, nem tudo o que gostamos de fazer o sabemos.
Demorei tanto tempo para fazer esta constatação, tão certa e tão óbvia.. E agora vejo também o quão abrangente ela é: pude aplicá-la a meus relacionamentos, pois tive provas de que, não importa o quanto se goste de uma pessoa, ou com quanta intensidade se deseje fazê-la feliz enquanto tentamos ser, as coisas podem não dar certo. Vi um relacionamento fadado ao fracasso extinguir-se, quando quem estava prestes a se extinguir era eu, juntamente com meus esforços para fazê-lo dar certo... Como posso ter ficado triste?
Pois é, eu costumo desaparecer do blog, e quando volto, é cheia de dores-de-cotovelo, para a desgraça de meus escassíssimos e cada vez mais raros leitores... Não os culpo, já disse que também não leria. Mas desta vez, há uma diferença: não decidi escrever por simples vontade de desabafar abertamente minha repulsa para com a vida em sociedade, desta vez é pra falar sobre uma nova condição comportamental... Meus sumiços do blog devem-se também à falta de razão para verbalizar qualquer sentimento e à minha atual “falta de assunto”, que no fim das contas, acabam sendo a mesma coisa. Agradeço profundamente à dica e a semi-oculta motivação que ela contém, mas não posso falar sobre como estou me sentindo, por que, quando escrevo, estou sempre “morna”, sempre naquele estado de espírito entre “inconsolável” e “superado”, que é exatamente o meu “vácuo” criativo (criativo???), o único estado que me motiva a sentar o traseiro na poltrona e desatar a dilacerar o teclado.
Pois bem, acabo de por um fim FIM mesmo, sem chances de volta, a um relacionamento que só me fazia mal, em todos os sentidos e de todas as formas possíveis; a um relacionamento fadado ao fracasso, desde seu primeiro momento. Fui eu quem terminou, depois ele, e depois eu denovo, e assim sucessivamente... Mas faz alguma diferença isto? Definitivamente não. Meu namoro beirava a loucura, meu amor beirava o servilismo, e isto certamente não faria bem a ninguém. É muito bom ter pessoas que me movam a pensar em mim, mesmo que eu seja suficientemente ingrata para não o fazer, às vezes...
Relendo meu texto, pensei em substituir a palavra “servilismo”, pois me pareceu um tanto brusca, um tanto “pesada”, mesmo sendo real. Sinceramente, pensei em substituí-la pois ela revelaria a quem me conhece uma faceta totalmente desconhecida (talvez intuída, mas nunca demonstrada) do meu comportamento e sentimentos... Mas por que devo continuar a me esconder dessa forma maluca? É muito difícil desafiar meus anos de prática em disfarces, mas acho que já chegou a hora de me despir. Não desejo sustentar nenhum estereótipo de Bruna, nem criar novos, e não é por nenhum princípio de última hora, apenas sinto a necessidade de me mostrar para descobrir quem gosta de mim, forma e conteúdo reais, não imaginários como meus objetivos... Quero ser real, me sinto inventada, me sinto criada, de certa forma, por meus desejos mais sutis de adolescente convicta em si mesma... Mas agora eu já não sou mais o que era, e não desejo ser outra coisa que não o que agora sou.
Tem alguém ainda aí? Então, vamos ao “strip-tease“...
Comecemos pelos sapatos e meias.... Sou extremamente sensível, e, ao contrário do que a grande maioria pensa (e do que meu instintivo refúgio faz parecer), detesto manter esta pose de durona e impassível que sempre tenho, principalmente quando estou completamente quebrada por dentro.
Fico deprimida com a mesma facilidade com que chove aqui no sul (certo, estamos em período de seca. Mas mantenho o exemplo). Tento parecer feliz sempre, mas não é sempre que funciona. Ao contrário do que muitos pensam, minha vida NÃO é um mar de rosas e as coisas muito raramente dão certo pra mim. Só faço besteiras, não sei gerenciar meu tempo, nem meu trabalho, nem minha vida, nem meu cachorro, nem porcaria nenhuma e, se houver alguma coisa que eu saiba fazer direitinho, por favor me contem...
Vamos tirar uma peça de “roupa” mais conclusiva, como por exemplo, meu amor por meu ex... Sim, amei muito, amei louquíssimamente, de uma forma incontestável e plena, dolorosa e salvadora, construtiva e desconexa, edificante e desvanecedora, enfim, amei como nem imaginava que fosse possível. Deve ser bem difícil pra quem me conhece bem acreditar em uma coisa dessas, tendo em vista que nunca demonstrei estar assim tão “poeticamente” perdida. Sempre lhes pareceu que eu estivesse no controle de tudo, não é? Mas não, durante uma considerável parte do tempo em que estive namorando, encontrei-me “de sonho ferida sem querer me curar”, como diria Cecília Meireles. Antes de prosseguir, quero deixar bem claro que, se hoje consigo falar sobre isso sem barreiras, é por que já não o amo mais, ao menos não desta forma destrutiva... Amo-o como se ama a uma lembrança, como se amaria a uma criança estúpida, mas querida (opa, nova citação: desta vez foi Lampedusa), nada mais. Inclusive ressalto que o declínio deste amor tão influente é o que me faz querer renunciar a tudo o que não for rocha, tudo o que não for certo, verdadeiro e duradouro. O que não posso levar comigo, o que sei que se irá desvanecer, como meu amor (que Deus o tenha), já não tento imortalizar com crenças banais: deixo por aqui mesmo.
Puxa, já estou me sentindo despida, e mesmo assim ainda há mais, muito mais... Mas devo parar por aqui pois, se me despir por completo, nada diferenciará minha nudez da repugnante nudez dos vermes... Não, não quero tornar-me tão clara, tão acessível; vou manter parte de minhas vestes, mas apenas o necessário para permitir que sobreviva minha subjetividade, assegurando-me mais alguns anos de convívio social necessário. Deixo o resto de meus disfarces para que o tire pessoalmente quem quiser... ou puder.