"Nenhum ser humano é capaz de esconder um segredo. Se a boca se cala, falam as pontas dos dedos..."(Freud)

sábado, 22 de dezembro de 2007

Grupo Célula

É a segunda vez que escrevo um texto assim tão direcionado, tão "carta". Não era exatamente este o objetivo inicial (nem o do blog e nem o do texto - era pra ser carta-carta mesmo e não carta-texto :). Enfim, aos leitores que não tem nada a ver com o balangandan: era imperativo que eu postasse este e-mail aqui. Já homenageei pessoas que não me trouxeram um quinto dos benefícios que meu grupo me trouxe, então seria injusto privar-me deste post, porque senti uma vontade imensa de fazer isto! Logo....

Querido Grupo:

Meu convívio com vocês foi fundamental este ano, que foi um ano muito especial pra mim. Aprendi muito, conheci pessoas muitos especiais, solidifiquei relacionamentos importantes... Reconheci em vocês valores que valem a pena ser imitados, fraquezas que me deram forças por me fazer perceber que não sou a única a ter problemas, recebi, muitas vezes, um apoio extraordinário do qual nunca tive sequer amostra em outros lugares... Vi pessoas que realmente se preocupam umas com as outras, e que realmente estão juntas com um objetivo claro e propósito firme, coisa que já havia desistido de encontrar. Finalmente minha busca por um lugar assim cessou.
Vi problemas se resolverem de forma clara e sincera, vi algumas mágoas veladas serem dissipadas, enfim, fui privilegiada por ter tido a oportunidade deste convívio tão fantástico, tão maravilhoso.
Seria injusto se não parasse no final deste ano para agradecê-los por tudo o que fizeram, mesmo que muitas vezes vocês não tenham efetivamente "agido": houveram situações em que apenas o fato de alguns de vocês existirem já foi suficiente. Meninas, peço desculpas por haver me mantido tão distante em muitas situações, por muitas vezes ter deixado de agir quando deveria, por não ter facilitado aproximações e nem me mostrado como realmente sou...
2008 está aí, e com ele, 365 chances de dias diferentes, de amar mais, doar-se mais, de buscar a Deus com mais intensidade, de lembrar o porquê de tudo: Cristo. De colocar o Senhor em cada um dos nossos projetos, em cada um dos nossos dias, em cada pequena dúvida, em cada grande decisão. Vou buscar aproveitar as minhas 365 (melhor, são 366: é ano bissexto!! ;) chances para fazê-los mais felizes, para tentar estar mais presente na vida de vocês e para abrir meu coração pra que vocês também possam estar presentes na minha.

Desejo tudo, tudo, tudo de bom que Deus tem preparado pra nós. Que vocês sejam muito felizes e estejam sempre (e cada vez mais) na paz do Senhor.

Obrigada por tudo! Vocês fizeram uma diferença imensa na minha vida!

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Ninho das Águias

Tão perto, que ainda posso ver Caxias. Tão longe, que ninguém me vê, sequer me imagina. É tão fácil e tão difícil chegar aqui, basta seguir a estrada: difícil é pôr-me nela. Paradoxal como a escrita: é fácil, difícil, eu sei, mas não sei.
É tão alto que ouço uma criança dizer “Mãe, aqui é o topo do mundo!”. Surpreendida pela frase, penso na sensação que a levaria a falar tal coisa, tão espontânea, tão óbvia, e fecho os olhos pra entender melhor... e me sinto no topo do mundo! Imaginação é um exercício tão fácil, tão divertido, que não entendo porque paramos de usufruir dela à medida que crescemos. Abro os olhos para contemplar uma infinidade de montes, permeados pela magnífica luz do sol, fazendo riscos de luz e sombra na paisagem esverdeada, e me vejo olhando a serra toda de cima, vendo cidades distantes a palmos uma da outra, e elas próprias, com pouco mais de um palmo...
Olho pra cima, e vejo o céu, e só. Fecho os olhos, e sinto o vento, e imagino que a vida deveria ser feita puramente de momentos como aquele. Ah, se a felicidade pudesse ser guardada para ser repetida mais e mais...

Eu estava no “topo do mundo” e meus sentimentos também. Desci em partes; a distração, a parte de mim que escreve, propriamente dita, ficou por lá...

(10/08/2007)

sábado, 21 de julho de 2007

Pétalas

Não me reconheço, em mim. Leio os meus antigos escritos, e me sinto como deveria sentir-se uma rosa desfolhada ao contemplar suas pétalas murchas, ao chão. Estranho aquelas pétalas murchas, que antes me eram tão caras e que agora, já não são mais eu. Passei a reler meus textos e me senti, de certa forma, uma intrusa em meio àqueles pensamentos que já não me representavam mais. Pensei em excluí-los, mas que droga, não há razão para fazê-lo.
Mudei tanto que modifiquei até o que não desejava mudar. Fiz gato e sapato de sensações e sentimentos passageiros e me coloquei por completo naqueles retratos de instantes, de sensações que às vezes não perduravam para além da noite de sono que seguia a escrita... Minha personalidade era rocha firme. Muitas vezes, me magoava ser tão dura assim, mas na maior parte do tempo, ah, como eu gostava...
Gostava, como gosto agora de perceber a sutil evolução dos pensamentos, nas palavras... Percebo que a pétala caída também sou eu, que a folha que se foi já não é, mas um dia foi parte de mim. Vergonha deles? Não. Essas poucas palavras que conseguia expelir para me libertar/desabafar foram o início da jornada mais libertadora da minha vida física: a escrita. Pela escrita, falo com pessoas distantes, com quem jamais falaria, em toda a vida. Falo com pessoas que vejo com freqüência, mas jamais diria o que digo aqui. Mostro-me com a mesma facilidade com que me escondo na vida real, atrás de máscaras de suposto mau-humor ou de fingida timidez. São só máscaras, que caem quando escrevo e que só quem conhece o que há por trás delas, sabe o quanto são falsas... Tão falsas, que já me disseram (inclusive em depoimento no orkut) que é impossível acreditar que alguém acredite em uma Bruna assim.
Escrever é libertar-se. De regras, de gramática e até de si mesmo. Posso repetir palavras, posso sentir o que finjo não sentir, posso ser eu mesma, aquela que em verdade, nem sou. Posso falar o que quiser, não importa se alguém vai ler: eu mesma vou.
Escrever é, também, conhecer a si mesmo. Eu não sabia que era feliz até escrever sobre felicidade, eu não sabia o quanto era cristã até escrever sobre Cristo, não sabia que era poeta até fazer poesia, e nem sabia o quanto amava até escrever sobre amor. Posso dizer então, que simplesmente não sabia quem eu era, enquanto não escrevi.
Existe uma alegoria de Platão que resumidamente diz que nossa auto-imagem é como se estivéssemos voltados para o fundo de uma caverna, observando apenas nossa própria sombra, acreditando tratar-se da realidade. Pois bem: a escrita não é a libertação propriamente dita, mas é um espelho colocado no fundo desta caverna. Faz com que possamos nos ver mais nitidamente, revela pensamentos e sensações que desconhecíamos, até que os escrevemos.
Ops, mais um texto. Mais um pouquinho de mim, para mim. E para quem quiser.

"Não te aflijas com a pétala que voa:
também é ser, deixar de ser assim.
Rosas verá, só de cinzas franzidas,
mortas, intactas pelo teu jardim.

Eu deixo aroma até nos meus espinhos
ao longe, o vento vai falando de mim.
E por perder-me é que vão me lembrando,
por desfolhar-me é que não tenho fim."

Cecília Meireles, A Grande.

terça-feira, 3 de julho de 2007

Minhas Mãos (homenagem às mãos do Gabi)

Chamo-as assim não por serem efetivamente minhas, mas afetivamente, me pertencem. Elas destoam do todo, são paradoxalmente grandes e infantis, principalmente quando estão semi-encobertas por um determinado abrigo de moletom, que faz o dono delas parecer tão pequeno quanto é grande o abrigo. Essas mãos, que me obrigam a ser/parecer contraditória quando falo delas, tornam difícil a conclusão de qualquer raciocínio, por mera insuficiência de instrumentos lógicos...
São mãos grandes, de dedos grossos, que por isso parecem curtos, dando a impressão de impossibilidade de efetuar trabalhos minuciosos, são mãos com unhas infantis e palma larga, aparentemente feitas para trabalhos pesados, que, afinal, executam com destreza e rapidez.
Mas o que de melhor elas fazem é justamente o oposto do que parecem feitas para fazer: elas aquecem, acariciam e sustentam como nenhuma outra. Fazem os problemas parecerem pequenos, os fazem caber na palma da mão e desaparecerem em um piscar de olhos... são mágicas.
Fazem cócegas, fazem rir, fazem dormir, consertam o que parecia sem conserto, realizam sonhos e assustam quando largam o volante só por diversão... E no volante elas me levam pra longe, só pra arrancar sorrisos e suspiros de alívio quando estou em um lugar especial, onde nós dois repousamos nossas mentes e largamos os problemas lá atrás, deixando o sol bater e o vento soprar, vendo as folhas caírem, vendo o tempo passar... A precisão destas mãos ao guiar um carro me faz pensar em como guiarão minha vida...
Sim, porque, um dia, o dono daquelas mãos vai pedir a minha...

sexta-feira, 20 de abril de 2007

Distração

Ela sentada, sentindo aquela sensação que só sente quem precisa de palavras pra se sentir pleno, especialmente em noites de domingo ou feriado. Sentada na poltrona (a cadeira é incômoda), com o teclado entre seus joelhos e calada, com os fones de ouvido em um volume suficientemente alto para retirar sua atenção do que quer que seja, além do computador e de si mesma. Fica parada, esperando, até que a conexão consigo mesma seja suficiente para desafiar a inércia e pôr-se a escrever palavras vindas de algum lugar entre ela e ela mesma...
O que é que a atormenta para que sua alma lhe exija um texto? Novamente sua própria insuficiência, que, com o passar do tempo, se revela de formas cada vez mais diversas e abrangentes. põe-se a “falar” com quem poderá escutá-la, mesmo sem saber exatamente quem e quantas pessoas serão. Fala diretamente a eles, com a intimidade pertinente de quem confidencia um de seus momentos de maior intimidade e conexão interna, coisa que só assim lhe é possível que se faça.
Ela então, chega ao ponto crucial, que determinará se o texto seguirá até o seu fim (publicação) ou se será apenas mais um rabisco em seu arquivo de fichas de textos: o assunto. Se o assunto escolhido (às vezes nesta mesma hora, às vezes dias antes) não lhe der possibilidades de um final definitivo, ou então lhe der excessiva margem para assuntos extremamente interiores, que não deveriam ser tão cruamente explicitados, acabará por tornar-se um texto completo, com arquivo próprio, mas sem coragem ou intenção de ser publicado.
Começa a pensar e, pensando acaba por perceber que, infatti, não quer discorrer sobre assunto algum, não quer manifestar sua opinião, quer apenas companhia. Não há nenhum assunto específico que queira explicitar, nenhum sentimento em especial para quebrar com palavras. Quer apenas cumprir o ritual que tanto a agrada, e então passa a observar-se para descobrir o que de si deseja mostrar, como uma espécie de distração que a fará desconcentrar-se para novamente concentrar-se em si. Olha ao seu redor, mas mantêm os olhos fechados, e o que vê? O computador, seu ‘diário’ de momentos interiores, seu confidente ocasional... Vê que o principal para que o texto “aconteça” ali está: ela, sentada, sentindo aquela sensação que só sente quem precisa de palavras pra se sentir pleno, especialmente em noites de domingo ou feriado... Ora, o assunto é secundário, basta um pouco de distração.

quarta-feira, 21 de março de 2007

A Comodidade que vem do Tempo

Com o passar do tempo, nos tornamos ‘urnas’ repletas de significados. No início da vida (principalmente até o início da adolescência), tudo nos parece interessante, fascinante e, até mesmo, assustador. Inúmeras situações são capazes de provocar em nós ‘frios na barriga’. Mas com o passar do tempo, tendo já vivido diversas experiências, estas passam a repetir-se e já não nos assustam, nem nos exortam a buscar novas soluções. Muitas vezes, ao invés de nos agitar, de provocar-nos a vivê-las com a intensidade pertinente à agitação que anteriormente nos provocavam, nos trazem lembranças de momentos anteriores. Algumas vezes lembranças nos fazem ficar em silêncio por segundos (ou não), e não raras vezes disfarçamos para não dividi-las com que está por perto. Sem dúvida, o ar de mistério que acaba por se formar devido a tantos pensamentos, lembranças, fatos e significados, é o grande responsável pela alteração no semblante de uma pessoa, em sua maneira de expressar-se, de sentir, de sorrir, de viver.

Ao invés de pensar que estamos envelhecendo, penso que estamos, aos poucos, enchendo nossa ‘urna’, tornando-nos plenos de significados e conteúdo, de razões e entendimento. Ao invés de fugir do tempo e de sofrimentos (que é quase como ‘secar gelo’), por que não aproveitamos as experiências que nos são dadas e tratamos de preencher-nos com cuidado, sorvendo cada gota que se acrescenta às nossas experiências? Mas não com a indiferença com que se toma algum remédio por obrigação, apenas por que não há nada que se possa fazer para evitá-lo, mas sim, com a delicadeza e atenção com que se degusta um doce (ou vinho, não deixemos de analisar a proposta por erro de metáfora, por favor). A vida pode sim (e deve!) ser tratada como uma experiência fantástica e intrigante, e não como uma obrigação penosa. Tomar esta atitude depende única e exclusivamente de cada um. Difícil? Não se pudermos pensar que toda a caminhada começa com um único passo...

Depois deste texto, ai de quem me vier dizer que “a vida não é um docinho”...

 

Louco... um pouco.

O poeta é um louco
De uma loucura passageira
Que, embora ele queira
Às vezes não passa...

Não importa o que faça,
Jamais vira gente,
Por mais que ele tente,
Poeta é outro ser...

...só sabe escrever.

terça-feira, 13 de março de 2007

Heterônimos

Uma bela paisagem não se afeta com os pensamentos existentes por trás de olhares que se lançam a ela. Vento, sol e chuva, ou então ações de vontades contidas em pensamentos sim, estes podem alterá-la, contando que tenham poder para isto.

Amigos: belos e fugazes olhares, sem poder algum... apenas meros e intrigantes olhares, que afetam a paisagem dentro de suas parcas possibilidades... que apenas a enaltecem conquanto tentam modificá-la por simples desejo de não passar, de deixar de ser olhar, e ser paisagem... (Dorilys)

__-----___-----___-----___-----___

De quantos beijos necessitamos para ser rosa?
E quantos elogios são necessários, para que não nos caiam as pétalas?

Com quantas mãos, sorrisos e olhares se faz uma imagem?
E quantas pedras, escarros e lágrimas são necessárias para desfazê-la?

De quantos heterônimos necessitamos para sermos livres?
E qual a dose de realidade é necessária, para que não nos escravizem?

De quantas estrelas necessitamos para que não nos falte brilho?
E quanto devemos brilhar, para sermos estrelas?

(Dorilys)

___-----___-----___-----___-----___

Iluminar passos de quem a cerca,
Manter suavidade de flor,
Manter-se imagem diversa
Daquela que vive em dor.

Sorrir aos lábios que escarram
Afagar a mão que apedreja
Fingir que não vê e não sente
O veneno da boca que beija...

Revezando pessoas e faces
Morrer aos poucos, sorrindo
Não crendo que lhes apraza

Que a luz se lhe vá esvaindo
Até que as palavras e cores
Se lhe acabem de todo extinguindo.

(Sophia)

Não Importa

Viver... deixar-se levar pela torrente furiosa do tempo,
Onde não se sabe se é sonho ou dia,
Se é chuva ou se há vento..

Viver.. e se deixar ser vivido, sem mágoas, nem escrúpulos
Pois não há noite que sempre dure,
Nem dia, que não se acabe no escuro...

Sentir... não esperar, não buscar, não correr
Não deixar de sofrer, e nem calcular
Há a medida certa para o que acontecer...

Partir... não pensar, deixar o que quer que for
Pois, as lembranças, o que fica pra trás
É o que faz ser eterno o amor.

quinta-feira, 8 de março de 2007

Quem sou.

Busco entender e conhecer o que vejo, as coisas que sinto, as pessoas que beijo e as razões por que minto... Se mergulho ou se água está fria, se o rio é raso ou se é muito fundo, se vivo a vida a divagar fantasias, ou se acordo e as trago a meu mundo... Se sucumbo e então desfaleço, se supero e então me refaço... não sei se penso ou se sinto, não sei se fico ou se passo... Se transcrevo o que me descreve, se me inspiro com isto e crio, se minha alma se enche e escreve, ou se a inveja me invade e copio...
Procurando voltar a ser o que sentia, a ver o que ouvia, escrever o que respirava, a sorrir como me perdia... Descobri, encontrei, cresci... e enquanto girava o mundo, ao pensar que evoluía, caí... ao imaginar como seria, perdi... ao perceber que vivia, morri...
Buscar ou desistir? Se buscar, perceber, pedir e procurar uma nova forma de encantar-se em existir... Perder horas vendo o céu refletir o mar, que está a quilômetros daqui... se buscar, dividindo somar, tudo o que de bom há em mim, e, só assim multiplicar, o que em mim é de mim tão desigual... reunir o que sou, disperso em quem sou, esquecendo o que é ter, para poder fazer com que haja o que faz valer a pena... Sentir que o vento não é só vento, que ainda sou filha da lua, escrever flores e sorrisos, tapetes macios e doces enganos... Entender o que vêem se me vêem, ou se apenas olham. errar.... e começar denovo... começar... e errar denovo... ou não. Ser clara enquanto dispersa, entendida se estiver submersa, para ser salva, denovo e denovo... Vislumbrar prazeres infindáveis, como as formas da natureza, nas próprias formas da natureza, que à minha alma, há de emprestar a beleza, que outrora, em viver residia e, que, ao acordar, encontrava. Se buscar, reaprender e decidir, assumir e escolher, entre a prosa e a poesia – metáforas de todas as decisões.
Depois de tudo, desistir? Desistir...
...é apenas passar.

Inércia

Ops, acho que acabo de desperdiçar um título promissor. Mas por que eu comecei pelo título, se o título deve ser a última coisa a ser escrita? Ora, porque não tenho o hábito de fazer as coisas da forma convencional. Não é que eu queira ser “do contra”, mas é que este é um hábito que já me é pertinente.
Pois bem, falo da inércia por que estava com vontade de escrever, mas sem saber por onde começar, então, apenas comecei. Desta vez pretendo um assunto novo, porque acho que já chega de escrever o epitáfio do meu amor...
Quem gosta de escrever, geralmente precisa que o que se escreve seja definitivo e claro, que seja algo inteligível (mas não de todo... sem subjetividade perde a graça...) e agradável, para que seja divertido a quem quer que o leia. No meu caso, esta passou a ser uma necessidade vigente desde o advento do blog; antes disto, apenas escrevia pelos motivos de Clarice Lispector, por ser a escrita um vício penoso, que no fim das contas é uma salvação, pois salva a alma presa e o dia que não se entende, a menos que se escreva...
“Quando não se tem mais nada, não se perde nada...” (Mantra – Nando Reis). Já me sinto livre de certos receios, de certos medos que sustentar algum estereótipo (ou vários) traz. Talvez esta “liberdade” seja o que me impede de escrever com maior freqüência. Muitos dos que anteriormente seriam promissores motivos para um texto já passam por mim sem que eu os perceba, ou melhor, sem me tocar com força suficiente para que eu sinta a necessidade de extravasar meu interior. Talvez esta recente inexorabilidade faça parte da minha própria evolução, assim como sua perda fez parte da evolução de um menino “conclusivo” (link).
A despeito da escassez de razões para escrever, a necessidade de me expressar “.doc” ainda vigora. Pois então, resolvi escrever sobre escrever, e apenas uma coisa separa meu texto, que já há alguns dias espera que eu pare de abri-lo para fechá-lo em seguida, de sua conclusão: um final, no mínimo, conclusivo.
... Que tal “fim”?

segunda-feira, 5 de março de 2007

Já que...

(Este texto estava apenas aguardando coragem para ser postado. Depois de um ano de escrito, ei-lo aqui...)
Tenho fama de boa leitora, mas não é por nenhuma razão “cultural”, é apenas um vício, como qualquer outro; é um destes vícios permitidos e estranhamente comuns, destes que cada um tem o seu. Pois não é que, gostando tanto de ler, e já tendo lido de tudo um pouco, não consigo escrever nada que possa dizer que leria? Infelizmente é verdade, nem tudo o que gostamos de fazer o sabemos.
Demorei tanto tempo para fazer esta constatação, tão certa e tão óbvia.. E agora vejo também o quão abrangente ela é: pude aplicá-la a meus relacionamentos, pois tive provas de que, não importa o quanto se goste de uma pessoa, ou com quanta intensidade se deseje fazê-la feliz enquanto tentamos ser, as coisas podem não dar certo. Vi um relacionamento fadado ao fracasso extinguir-se, quando quem estava prestes a se extinguir era eu, juntamente com meus esforços para fazê-lo dar certo... Como posso ter ficado triste?
Pois é, eu costumo desaparecer do blog, e quando volto, é cheia de dores-de-cotovelo, para a desgraça de meus escassíssimos e cada vez mais raros leitores... Não os culpo, já disse que também não leria. Mas desta vez, há uma diferença: não decidi escrever por simples vontade de desabafar abertamente minha repulsa para com a vida em sociedade, desta vez é pra falar sobre uma nova condição comportamental... Meus sumiços do blog devem-se também à falta de razão para verbalizar qualquer sentimento e à minha atual “falta de assunto”, que no fim das contas, acabam sendo a mesma coisa. Agradeço profundamente à dica e a semi-oculta motivação que ela contém, mas não posso falar sobre como estou me sentindo, por que, quando escrevo, estou sempre “morna”, sempre naquele estado de espírito entre “inconsolável” e “superado”, que é exatamente o meu “vácuo” criativo (criativo???), o único estado que me motiva a sentar o traseiro na poltrona e desatar a dilacerar o teclado.
Pois bem, acabo de por um fim FIM mesmo, sem chances de volta, a um relacionamento que só me fazia mal, em todos os sentidos e de todas as formas possíveis; a um relacionamento fadado ao fracasso, desde seu primeiro momento. Fui eu quem terminou, depois ele, e depois eu denovo, e assim sucessivamente... Mas faz alguma diferença isto? Definitivamente não. Meu namoro beirava a loucura, meu amor beirava o servilismo, e isto certamente não faria bem a ninguém. É muito bom ter pessoas que me movam a pensar em mim, mesmo que eu seja suficientemente ingrata para não o fazer, às vezes...
Relendo meu texto, pensei em substituir a palavra “servilismo”, pois me pareceu um tanto brusca, um tanto “pesada”, mesmo sendo real. Sinceramente, pensei em substituí-la pois ela revelaria a quem me conhece uma faceta totalmente desconhecida (talvez intuída, mas nunca demonstrada) do meu comportamento e sentimentos... Mas por que devo continuar a me esconder dessa forma maluca? É muito difícil desafiar meus anos de prática em disfarces, mas acho que já chegou a hora de me despir. Não desejo sustentar nenhum estereótipo de Bruna, nem criar novos, e não é por nenhum princípio de última hora, apenas sinto a necessidade de me mostrar para descobrir quem gosta de mim, forma e conteúdo reais, não imaginários como meus objetivos... Quero ser real, me sinto inventada, me sinto criada, de certa forma, por meus desejos mais sutis de adolescente convicta em si mesma... Mas agora eu já não sou mais o que era, e não desejo ser outra coisa que não o que agora sou.
Tem alguém ainda aí? Então, vamos ao “strip-tease“...
Comecemos pelos sapatos e meias.... Sou extremamente sensível, e, ao contrário do que a grande maioria pensa (e do que meu instintivo refúgio faz parecer), detesto manter esta pose de durona e impassível que sempre tenho, principalmente quando estou completamente quebrada por dentro.
Fico deprimida com a mesma facilidade com que chove aqui no sul (certo, estamos em período de seca. Mas mantenho o exemplo). Tento parecer feliz sempre, mas não é sempre que funciona. Ao contrário do que muitos pensam, minha vida NÃO é um mar de rosas e as coisas muito raramente dão certo pra mim. Só faço besteiras, não sei gerenciar meu tempo, nem meu trabalho, nem minha vida, nem meu cachorro, nem porcaria nenhuma e, se houver alguma coisa que eu saiba fazer direitinho, por favor me contem...
Vamos tirar uma peça de “roupa” mais conclusiva, como por exemplo, meu amor por meu ex... Sim, amei muito, amei louquíssimamente, de uma forma incontestável e plena, dolorosa e salvadora, construtiva e desconexa, edificante e desvanecedora, enfim, amei como nem imaginava que fosse possível. Deve ser bem difícil pra quem me conhece bem acreditar em uma coisa dessas, tendo em vista que nunca demonstrei estar assim tão “poeticamente” perdida. Sempre lhes pareceu que eu estivesse no controle de tudo, não é? Mas não, durante uma considerável parte do tempo em que estive namorando, encontrei-me “de sonho ferida sem querer me curar”, como diria Cecília Meireles. Antes de prosseguir, quero deixar bem claro que, se hoje consigo falar sobre isso sem barreiras, é por que já não o amo mais, ao menos não desta forma destrutiva... Amo-o como se ama a uma lembrança, como se amaria a uma criança estúpida, mas querida (opa, nova citação: desta vez foi Lampedusa), nada mais. Inclusive ressalto que o declínio deste amor tão influente é o que me faz querer renunciar a tudo o que não for rocha, tudo o que não for certo, verdadeiro e duradouro. O que não posso levar comigo, o que sei que se irá desvanecer, como meu amor (que Deus o tenha), já não tento imortalizar com crenças banais: deixo por aqui mesmo.
Puxa, já estou me sentindo despida, e mesmo assim ainda há mais, muito mais... Mas devo parar por aqui pois, se me despir por completo, nada diferenciará minha nudez da repugnante nudez dos vermes... Não, não quero tornar-me tão clara, tão acessível; vou manter parte de minhas vestes, mas apenas o necessário para permitir que sobreviva minha subjetividade, assegurando-me mais alguns anos de convívio social necessário. Deixo o resto de meus disfarces para que o tire pessoalmente quem quiser... ou puder.