"Nenhum ser humano é capaz de esconder um segredo. Se a boca se cala, falam as pontas dos dedos..."(Freud)

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

O Outono e Eu.


Fotos: Bruna Scopel Moreira

Canção de outono

O outono toca realejo
No pátio da minha vida.
Velha canção, sempre a mesma,
Sob a vidraça descida...

Tristeza? Encanto? Desejo?
Como é possível sabê-lo?
Um gozo incerto e dorido
de carícia a contrapelo...

Partir, ó alma, que dizes?
Colher as horas, em suma...
mas os caminhos do Outono
Vão dar em parte alguma!


Mario Quintana
(1906-1994)

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Entre ver e olhar

A Fotografia é uma coisa mágica. Eu sentia uma vontade doida de pintar meus pensamentos com todas as cores do mundo, mas faltava-me o talento para as artes plásticas. Eu recorria à escrita, que me permitia retratar descritivamente as cores da minha alma. 
Ainda assim, faltava a arte de dizer aos olhos, faltava a cor, a luz e a imagem, onde a palavra é implícita. 
A fotografia, de certa forma, supriu esta necessidade de comunicar, que a escrita, por si só já não era capaz de sanar. Faltava-me o verso sem som, faltava a poesia escondida, interpretada de forma diferente a cada olhar. Faltava a sensação de capturar e preservar jardins eternamente. 
Dentre tantas coisas que podem ser ditas a seu respeito, gosto do fato de a fotografia lançar um olhar atento ao que geralmente, a gente olha, mas não vê. Estas árvores da foto, por exemplo, estão situadas no coração do campus da Universidade de Caxias do Sul, mas garanto que nenhum aluno seria capaz de identificá-las. É um local de fluxo intenso, onde as pessoas passam, apressadas, e possivelmente nunca olham para cima. Eu mesma, não me lembro de tê-las percebido antes do dia em que tirei esta foto.
Há uma frase de Mário Quintana, que diz que "O que mata um jardim não é o abandono. O que mata um jardim é esse olhar de quem por ele passa indiferente."
Aprender fotografia, mesmo que minimamente, resgatou muito mais jardins do que as palavras que uso neste momento poderiam explicitar. 
Libertou-me a alma para expressar em cores, ensinou-me a fazer poesia com a luz e, o principal: treinou-me o olhar para que nunca mais os jardins da vida me sejam indiferentes. 

sábado, 5 de setembro de 2009

Ciclos de Outono





Afinal...
quem está pronto pra cair?

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Importa "como" falar

A internet nos permite dois prazeres paradoxos: o de estar só e acompanhado ao mesmo tempo. Ferramentas como o twitter, por exemplo, facilitaram a expressão de sentimentos, sensações e pensamentos, dando a impressão de que haverá alguém pra nos ouvir, a qualquer hora.
Com isto, as pessoas têm extravasado exatamente aquilo que estão pensando, sentindo e fazendo, mas sem ponderar sobre o assunto, ou sobre a forma de explicitá-lo. Nos deparamos então com manifestações como "bom-dia", "indo pro banho", "cansada, vou dormir", "nada na geladeira", "boa-noite".
Não pretendo entrar na questão da relevância da informação, porque as pessoas não tem a obrigação de nos divertir ou informar a cada mínimo tweet - aí entra a máxima: "Não gostou? Clica em unfolow".
Mas sustento a opinião de que um mínimo de pensamento sobre o assunto, antes de postá-lo é vital. Isto inclusive satisfaz de forma mais eficaz o desejo enorme de comunicar que grande parte dos usuários de blogs tem. Nos proporciona satisfação com o nível da nossa comunicação.
Moral da história: Não importa saber quem entrou no banho ou foi comprar pão. Quando um ato corriqueiro do dia-a-dia gera um sentimento ou pensamento que, por sua vez, dá origem a uma manifestação verbal, aí sim importa. Mesmo que não seja necessariamente divertido, sutil ou profundo, tenho a certeza de que será mais significativo.

Os followers (e a blogosfera em geral) agradecem.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Pocoyo!

Um dos meus pequenos prazeres é assistir a um desenho chamado Pocoyo. Não sei bem que resistente resquício de infância transformou esta animação, feita pra um público de três ou quatro anos, em uma diversão de gente grande. O fato é que é tão gostoso quanto assistir um seriado bom.

Ele é simples, com personagens coloridos em um fundo branco. Infantil, mas não "idiota" (como eram os telettubies, que eu considerava um programa deseducativo). O Pocoyo é um menininho (fofo!), que aprende coisas a cada episódio, e que fala todas as palavras direitinho. Voluntarioso, pra entender algumas coisas, precisa da ajuda do narrador e dos "amiguinhos", os quais só conhecemos as vozes. Tem outros personagens - a cachorrinha Loula, a Elefante Elly, o pássaro Sonequita, e o Pato. Adoro até a trilha sonora, que é uma gracinha.
Quando nos damos conta, estamos respondendo às perguntas do narrador e conversando com os personagens - quando não imitando o Pocoyo.

Todas as pessoas até hoje, que conheceram Pocoyo (e que eu tenha presenciado), não só gostaram, como viciaram. Uma pena que, em português do Brasil, só hajam três episódios no Youtube. Um deles aqui.
Enjoy it!

[Update] E é possível assistir Pocoyo todas as madrugadas, no Omedicast. Bem lembrado, André Maltempi.

O essencial é invisível aos olhos

O valor das coisas está no valor que podemos atribuir a elas. Uma casa pode não ser só uma casa, ela pode ser a lembrança de um dia de sol, de um arco-íris, de brincadeiras, de banhos de chuva. Uma foto pode ser mais do que uma imagem: tudo depende de que tipo de pensamentos ela pode evocar, que cena ela retrata, e qual a importância deste momento pra alguém.
Essa manga retratada na foto tem muita história. A história da foto, no qual foi baseada sua releitura; a história da viagem que fiz para conseguir a foto (e de tudo o que aconteceu neste percurso), a história da decisão em fazê-la, a história dela mesma, dos momentos que passei com ela. As sensações que ela evoca, as imagens, pensamentos e pessoas, tudo isto tem um valor muito grande em significado que eu espero, um dia, poder transmitir com a amplitude de alma que ela merece.

(título: frase de Antoine de Saint-Èxupery)

Gigante

Engraçado, as crises da nossa vida vão nos dando forma e nos definindo. Mas a cada uma delas, a sensação é de que nos perdemos e perdemos nossa essência. Cada momento difícil traz uma série de aprendizados e mudanças - nem sempre conscientes e raramente solicitados.
Mas a gente cresce, a gente evolui. E, depois que passa, fica pronto para a vida, pronto para novas batalhas. Pronto para usar tudo aquilo que aprendemos, na conquista de novos espaços.

***

O problema é que, de tanto crescer, ela virou um gigante. Um gigante grande e desajustado, que procurou espaço toda a vida, esperando o momento certo de buscar e assumir o espaço final, tão querido e sonhado, para o qual tratou de aprender e crescer tanto quanto pode.

Acho que não vai caber em lugar algum, de tanto que cresceu com a perda deste espaço.