"Nenhum ser humano é capaz de esconder um segredo. Se a boca se cala, falam as pontas dos dedos..."(Freud)

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Espinhos

    Quando queremos escrever alguma coisa, é necessário que antes coloquemos nossos sentimentos em ordem, da mesma forma que, para falarmos, é necessário organizar os pensamentos. Mas nem sempre a escrita consegue ser fruto de um pensamento centrado, ou de uma ideia exaustivamente pensada. Muitas vezes, sentimos apenas a necessidade de, com a escrita, alinhar a vida e o dia, consertar o coração e sossegar a alma. Queremos jogar sobre as letras os frutos que nossa alma produz, sejam eles doces, amargos ou insípidos. 
    Às vezes, nossa harmonia é quebrada, e nem sempre conseguimos identificar a causa exata, quanto menos a solução. A escrita não deveria servir de desabafo, mas é ela quem se impõe: o papel grita pela caneta, a caneta clama pelo papel e ambos se jogam, ao mesmo tempo, em nossas mãos. Nos fazem buscar, revirar e perscrutar nossa alma, em busca de qualquer espinho para ser expurgado. 
    Uma vez que o tenhamos feito, teremos então um texto, algumas descobertas e uma ligeira sensação de desabafo. A partir daí, só nos será necessário buscar coragem para deixar de lado os espinhos do pensamento e enfrentar os que nos impedem, verdadeiramente, de restaurar nossa harmonia.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Viagem, poema antigo

A luz que vi em teus olhos
refletida na lágrima tua
quando eu disse pra olhares a lua
será minha última imagem
antes da tua partida
rumo à amarga viagem
que vazios deixou os meus braços
pendendo tolos, inermes,
inúteis sem teus abraços.
Inúteis como minha voz,
no vácuo, onde o som não se ouve;
inúteis como a foz
de um rio, onde água não corre;
tolos, como a poesia
que nestas palavras morre;
tolos como o poeta
que, estando coberto de dor,
imita sua poesia
e há tempos morre de amor.


Escrito em 25/11/2003.