"Nenhum ser humano é capaz de esconder um segredo. Se a boca se cala, falam as pontas dos dedos..."(Freud)

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

O desejo de [não] dizer

Toda a palavra escrita é fruto de um desejo. Desejo de companhia, de expressão, de notoriedade. Em frases tristes, há uma necessidade de compreensão, de justificação. Ou de salvamento. Na publicidade, desejo de indução, de formação de opinião, de convencimento. Há palavras escritas com desejo de resposta. Outras, com o de solidão.
Por que falo sobre escrita e sobre desejo? Pelo fato de que um texto que iniciasse com desejos explícitos de maneira clara não poderia ir muito longe. É o nosso papel fazer-nos entender ao longo do texto. 
O que eu queria, ao escrever este texto, era ir muito além do alcance das palavras. Ir além do alcance do tempo, e permitir que meu desejo fosse conhecido mesmo depois de expressado e esquecido. Superar o espaço e encontrar, em determinado ponto do planeta, a causa da movimentação da minha alma e de seus quereres e dos meus dedos, quando escrevem.
É uma vontade de dizer sem dizer, de querer estar perto, de ser entendida sem precisar ser clara. É vontade de vida, de poesia, de compartilhar o que há tempos já não existe.
No final das contas, é um querer fazer saber o quanto alguém é importante. É a vontade de satisfazer um pequeno desejo do objeto dos meus.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Primeiras trocas

          Sábado, aula de italiano. Surgem inevitáveis perguntas sobre o concurso (perguntas que, aliás, muito me alegro em responder).
          Em lugar do despojo (ok, desleixo) habitual dos sábados pela manhã (ok, de todas as manhãs - e de algumas tardes também), vestes adequadas, maquiagem condizente e cabelos escovados. E o mais surpreendente: botas de salto alto. Onde estão os tênis? "Posso ver que já assumiste a postura do concurso: já estás vestida de acordo". Claro, digo eu. E penso: "Agora é hora de ser adulta".
          Guardei os tênis - antes, sempre soltos pelo quarto, à mão - em uma gaveta de calçados. Antes de deixá-los, olho para eles com a ternura de quem contempla parte de si. Eles diziam tanto sobre mim!
          Depois dessa nossa última conversa silenciosa, fecho a gaveta com um suspiro. Deixei naquela gaveta muitas coisas sobre mim, coisas que não condizem com o grande momento que se aproxima. Para trás, deixo tudo aquilo que contraria o que construí e busquei, para que um sonho, o de viver algo maior que eu, se realize. 


          Guardei na gaveta os tênis, meu desleixo, minhas incertezas e inseguranças. Em troca, ganhei a leveza no meu sorriso. 
Leveza... Adjetivo perfeito para quem tem um longo e brilhante caminho pela frente. 


Escrito em 08/06/2009