"Nenhum ser humano é capaz de esconder um segredo. Se a boca se cala, falam as pontas dos dedos..."(Freud)

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Primeiras trocas

          Sábado, aula de italiano. Surgem inevitáveis perguntas sobre o concurso (perguntas que, aliás, muito me alegro em responder).
          Em lugar do despojo (ok, desleixo) habitual dos sábados pela manhã (ok, de todas as manhãs - e de algumas tardes também), vestes adequadas, maquiagem condizente e cabelos escovados. E o mais surpreendente: botas de salto alto. Onde estão os tênis? "Posso ver que já assumiste a postura do concurso: já estás vestida de acordo". Claro, digo eu. E penso: "Agora é hora de ser adulta".
          Guardei os tênis - antes, sempre soltos pelo quarto, à mão - em uma gaveta de calçados. Antes de deixá-los, olho para eles com a ternura de quem contempla parte de si. Eles diziam tanto sobre mim!
          Depois dessa nossa última conversa silenciosa, fecho a gaveta com um suspiro. Deixei naquela gaveta muitas coisas sobre mim, coisas que não condizem com o grande momento que se aproxima. Para trás, deixo tudo aquilo que contraria o que construí e busquei, para que um sonho, o de viver algo maior que eu, se realize. 


          Guardei na gaveta os tênis, meu desleixo, minhas incertezas e inseguranças. Em troca, ganhei a leveza no meu sorriso. 
Leveza... Adjetivo perfeito para quem tem um longo e brilhante caminho pela frente. 


Escrito em 08/06/2009

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