"Nenhum ser humano é capaz de esconder um segredo. Se a boca se cala, falam as pontas dos dedos..."(Freud)

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Eu gosto, eu sinto.

Gosto do ar levemente rarefeito da serra. Gosto de ver araucárias onde quer que eu vá. Gosto de saber que chegou o inverno, porque está saindo "fumacinha" da boca. E do cheiro de fogões à lenha, em meio ao ar gelado da rua. 
É gostoso entrar em uma casa aquecida, tirar a manta e o casaco, sentir o calor entrando no corpo, as mãos se degelando. E ver outras pessoas de bochechas rosadas de frio, nariz avermelhado. E pele branquinha, até uma determinada época do ano. Depois, as peles vão se bronzeando conforme janeiro se aproxima, e depois clareando em direção ao meio do ano. 
Gostoso ouvir as mesmas vozes, os mesmos toques de telefone, as mesmas músicas, em outros cômodos da casa. Gostoso ouvir as pessoas falaram se chamando por "tu", e jamais se dar conta disto. Ouvir palavras e expressões desde sempre, crescer, e descobrir que elas pertencem a um código apenas regionalmente entendido. 
E saber que andando na rua, podes encontrar alguém que já não via há tempos. E andar sem estranhar pela mesma rua, a vida inteira. E sentir, ao entrar na rua onde moramos, que já estamos em casa. 
Saber onde vendem tudo aquilo que gostamos. Saber qual cafeteria tem o melhor pastel, qual tem o melhor chocolate, qual loja tem as roupas que gostamos, onde comprar livros baratos. Saber o nome de muita gente, e muita gente saber o teu.
Pisar no chão da tua cidade, com aquele sentimento de posse gostoso que uma infância e adolescência inteiras te propiciam. Ter uma história em cada um dos lugares por onde se passa, nem que tenha sido um sorvete, uma brincadeira de gangorra, uma foto, uma conversa, um encontro. Ter as pessoas que a gente ama por perto, ganhar abraços, compartilhar cafés.
Ah, e o cheiro de café...