"Nenhum ser humano é capaz de esconder um segredo. Se a boca se cala, falam as pontas dos dedos..."(Freud)

segunda-feira, 5 de março de 2007

Já que...

(Este texto estava apenas aguardando coragem para ser postado. Depois de um ano de escrito, ei-lo aqui...)
Tenho fama de boa leitora, mas não é por nenhuma razão “cultural”, é apenas um vício, como qualquer outro; é um destes vícios permitidos e estranhamente comuns, destes que cada um tem o seu. Pois não é que, gostando tanto de ler, e já tendo lido de tudo um pouco, não consigo escrever nada que possa dizer que leria? Infelizmente é verdade, nem tudo o que gostamos de fazer o sabemos.
Demorei tanto tempo para fazer esta constatação, tão certa e tão óbvia.. E agora vejo também o quão abrangente ela é: pude aplicá-la a meus relacionamentos, pois tive provas de que, não importa o quanto se goste de uma pessoa, ou com quanta intensidade se deseje fazê-la feliz enquanto tentamos ser, as coisas podem não dar certo. Vi um relacionamento fadado ao fracasso extinguir-se, quando quem estava prestes a se extinguir era eu, juntamente com meus esforços para fazê-lo dar certo... Como posso ter ficado triste?
Pois é, eu costumo desaparecer do blog, e quando volto, é cheia de dores-de-cotovelo, para a desgraça de meus escassíssimos e cada vez mais raros leitores... Não os culpo, já disse que também não leria. Mas desta vez, há uma diferença: não decidi escrever por simples vontade de desabafar abertamente minha repulsa para com a vida em sociedade, desta vez é pra falar sobre uma nova condição comportamental... Meus sumiços do blog devem-se também à falta de razão para verbalizar qualquer sentimento e à minha atual “falta de assunto”, que no fim das contas, acabam sendo a mesma coisa. Agradeço profundamente à dica e a semi-oculta motivação que ela contém, mas não posso falar sobre como estou me sentindo, por que, quando escrevo, estou sempre “morna”, sempre naquele estado de espírito entre “inconsolável” e “superado”, que é exatamente o meu “vácuo” criativo (criativo???), o único estado que me motiva a sentar o traseiro na poltrona e desatar a dilacerar o teclado.
Pois bem, acabo de por um fim FIM mesmo, sem chances de volta, a um relacionamento que só me fazia mal, em todos os sentidos e de todas as formas possíveis; a um relacionamento fadado ao fracasso, desde seu primeiro momento. Fui eu quem terminou, depois ele, e depois eu denovo, e assim sucessivamente... Mas faz alguma diferença isto? Definitivamente não. Meu namoro beirava a loucura, meu amor beirava o servilismo, e isto certamente não faria bem a ninguém. É muito bom ter pessoas que me movam a pensar em mim, mesmo que eu seja suficientemente ingrata para não o fazer, às vezes...
Relendo meu texto, pensei em substituir a palavra “servilismo”, pois me pareceu um tanto brusca, um tanto “pesada”, mesmo sendo real. Sinceramente, pensei em substituí-la pois ela revelaria a quem me conhece uma faceta totalmente desconhecida (talvez intuída, mas nunca demonstrada) do meu comportamento e sentimentos... Mas por que devo continuar a me esconder dessa forma maluca? É muito difícil desafiar meus anos de prática em disfarces, mas acho que já chegou a hora de me despir. Não desejo sustentar nenhum estereótipo de Bruna, nem criar novos, e não é por nenhum princípio de última hora, apenas sinto a necessidade de me mostrar para descobrir quem gosta de mim, forma e conteúdo reais, não imaginários como meus objetivos... Quero ser real, me sinto inventada, me sinto criada, de certa forma, por meus desejos mais sutis de adolescente convicta em si mesma... Mas agora eu já não sou mais o que era, e não desejo ser outra coisa que não o que agora sou.
Tem alguém ainda aí? Então, vamos ao “strip-tease“...
Comecemos pelos sapatos e meias.... Sou extremamente sensível, e, ao contrário do que a grande maioria pensa (e do que meu instintivo refúgio faz parecer), detesto manter esta pose de durona e impassível que sempre tenho, principalmente quando estou completamente quebrada por dentro.
Fico deprimida com a mesma facilidade com que chove aqui no sul (certo, estamos em período de seca. Mas mantenho o exemplo). Tento parecer feliz sempre, mas não é sempre que funciona. Ao contrário do que muitos pensam, minha vida NÃO é um mar de rosas e as coisas muito raramente dão certo pra mim. Só faço besteiras, não sei gerenciar meu tempo, nem meu trabalho, nem minha vida, nem meu cachorro, nem porcaria nenhuma e, se houver alguma coisa que eu saiba fazer direitinho, por favor me contem...
Vamos tirar uma peça de “roupa” mais conclusiva, como por exemplo, meu amor por meu ex... Sim, amei muito, amei louquíssimamente, de uma forma incontestável e plena, dolorosa e salvadora, construtiva e desconexa, edificante e desvanecedora, enfim, amei como nem imaginava que fosse possível. Deve ser bem difícil pra quem me conhece bem acreditar em uma coisa dessas, tendo em vista que nunca demonstrei estar assim tão “poeticamente” perdida. Sempre lhes pareceu que eu estivesse no controle de tudo, não é? Mas não, durante uma considerável parte do tempo em que estive namorando, encontrei-me “de sonho ferida sem querer me curar”, como diria Cecília Meireles. Antes de prosseguir, quero deixar bem claro que, se hoje consigo falar sobre isso sem barreiras, é por que já não o amo mais, ao menos não desta forma destrutiva... Amo-o como se ama a uma lembrança, como se amaria a uma criança estúpida, mas querida (opa, nova citação: desta vez foi Lampedusa), nada mais. Inclusive ressalto que o declínio deste amor tão influente é o que me faz querer renunciar a tudo o que não for rocha, tudo o que não for certo, verdadeiro e duradouro. O que não posso levar comigo, o que sei que se irá desvanecer, como meu amor (que Deus o tenha), já não tento imortalizar com crenças banais: deixo por aqui mesmo.
Puxa, já estou me sentindo despida, e mesmo assim ainda há mais, muito mais... Mas devo parar por aqui pois, se me despir por completo, nada diferenciará minha nudez da repugnante nudez dos vermes... Não, não quero tornar-me tão clara, tão acessível; vou manter parte de minhas vestes, mas apenas o necessário para permitir que sobreviva minha subjetividade, assegurando-me mais alguns anos de convívio social necessário. Deixo o resto de meus disfarces para que o tire pessoalmente quem quiser... ou puder.

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