"Nenhum ser humano é capaz de esconder um segredo. Se a boca se cala, falam as pontas dos dedos..."(Freud)

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Tá proibido ser

Engraçado é que hoje em dia, com a internet e as redes sociais a todo o vapor, quanto mais as pessoas se mostram, menos as vemos. Nos primórdios da minha vida na internet, antes de eu aderir ao recente orkut, tudo o que eu tinha (e queria ter) das pessoas com quem me relacionava virtualmente eram seus textos. Muitas pessoas tinham seus blogs pessoais e neles, se derramavam e se explicitavam como um todo. Conheci muita gente assim, através das suas palavras, e passei a conhecer melhor outras, que já se contavam entre as de meu convívio diário.

Hoje em dia, tudo se resume a um status de rede social virtual. Cento e quarenta caracteres no twitter, um pouco mais no facebook, e é isto. Mas eu ainda acredito que, se estes poucos caracteres são suficientes para afagar a necessidade de expressão de alguém, então esse alguém definitivamente tem muito pouco a dizer. Quem o faz, quem ainda escreve de monte, quem ainda tem mil pensamentos e opiniões sobre a vida, enquanto ela acontece, está ou se habituando às novas formas de expressão pasteurizada (e sujeita a aprovação instantânea de quem mal lê e já sai comentando e curtindo) ou está resistindo em seu canto dos tempos de blogger (wordpress, papel e caneta, caderno de anotações, etc.).

E então, nessa coisa toda de adequação, as pessoas postam mais, divulgam mais, compartilham mais informações, mas falam menos, muito menos. Opiniões sinceras, só se forem cool, ou se estas pessoas não se incomodarem de manter-se em um grupo que contém apenas os seus. Cristãos com cristãos, ateus com ateus, cada um na sua. Opiniões profundas e ponderadas, daqueles mais dados a refletir sobre o assunto antes de  expressá-la, ainda mais raras. Estamos na era de compartilhamento multimídia e, porquanto as imagens falam mais que mil palavras, vemos cada vez mais das primeiras e menos das segundas. Basta alguém montar imagens com uma sacada qualquer, que elas se propagam com a velocidade da luz. Algumas imagens, inclusive, já vem com opinião. Não se precisa nem mesmo ter uma, basta adotar uma, clicar em dois ou três botões e pronto: ela é sua. 

Aqueles que não se limitam, que postam sobre mais de um assunto, se encaixam em mais de um grupo, estes são, por vezes, severamente criticados. São aqueles que falam sobre tudo, e ainda admitem uma opinião. Escrevem sem "pasteurizar", sem cortar partes que potencialmente incomodariam alguns outros. Aqueles que acordam e agradecem seu Deus, mas não passam o dia inteiro postando imagens de páginas gospel. Aqueles que curtem rock, postam sua música favorita, mas não se vestem de uma cor só e nem ignoram completamente outros gêneros musicais - e as pessoas que deles gostam. Gente assim "é" em sua totalidade, sabe "ser" por si só, sem deixar-se podar por aqueles que não o são.

Gosto de pessoas assim. Para escrever, falar, mostrar-se e suster-se neste mundo da superficialidade, da futilidade e da não-sutileza, é preciso ter "colhões". Isto e uma certa teimosia, para não perecer sob a vigilância afiada de quem só existe pela metade (e olha lá). 

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Da falta de ouvidos e línguas

O problema dos dias de hoje é que já não estamos interessados em ouvir ninguém e, portanto, já não há ninguém disponível para nos ouvir. Saímos, então, nos expressando superficialmente nas redes sociais, e tendo a falsa sensação de estarmos sendo ouvidos, quando na verdade, não estamos. Aquilo que realmente queremos dizer passou longe do que realmente escrevemos, e nossa sensação de engasgo aumenta a cada dia. 
Ninguém nos conhece bem, nem sequer nós mesmos: se nada falamos, perdemos a chance de nos descobrirmos, de transformarmos em verbo e analisarmos aquilo que sentimos.

A superficialidade e a efemeridade das relações (reforçadas pelas redes sociais) é que são o verdadeiro mal do século.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

O que dura neste mundo

A gente tem essa sensação de perene, de eterno. Mas somos transitórios. Vamos passar, e a grande maioria de nós, em branco. Seremos apenas fonte de novas gentes do futuro. Lembrados por nossos filhos e netos enquanto eles existirem e pensarem em nós, mas não muito além disto. A admiração é uma forma de sobrevida. Despertamos nos outros sentimentos e deixamos histórias que podem durar uma vida ou duas, mas, por fim, a maioria de nos vai virar menos que pó no mundo das memórias.

A escrita é eternidade. 

Não somos

As coisas mudam. Poucas frases sao tao certas e dotadas de um sentido tão amplo. As coisas, as pessoas, os lugares, todos mudam. Mudam com o tempo, mudam por ação de algo ou alguém, simplesmente mudam.
O tipo de mudança que habita os meus pensamentos neste instante é de pessoa por pessoa, de gente que muda por causa de outras gentes. Às vezes, não é que a pessoa mude de fato, mas o olhar do outro sobre ela é o que a torna diferente. Se o outro a vê forte ou fraca, se a vê solene ou brincalhona, às vezes, determina a mudança. Se o ambiente exige determinado comportamento e a pessoa vive em demasia naquele ambiente, ela acaba se tornando mais e mais aquela pessoa.

Ao final disto tudo, somos folhas de papel em branco, suujando e rabiscando umas àss outras e apregoando nossa pretensa orginalidade. Propensas ao ângulo do olhar do outro, incapazes de realmente nos vermos como somos: o que de nós vemos é o que de nós queremos ou achamos que temos. O que de fato somos é indefinível, mutável e vulnerável aos ambientes em que vivemos.