"Nenhum ser humano é capaz de esconder um segredo. Se a boca se cala, falam as pontas dos dedos..."(Freud)

segunda-feira, 19 de maio de 2008

O vazio.

Não se vê o vazio, propriamente dito. O que se enxerga é o pote e, por não haver nada, nadinha lá é que percebemos que é um pote vazio. Pois bem, existem diversas formas de vazio, a despeito das dimensões do pote. O tamanho do vazio é geralmente o mesmo: imenso, gigante. Incomensurável.
Os potinhos geralmente não se dão conta dele, ao mesmo tempo em que, paradoxalmente, tentam preenchê-lo com uma ânsia desesperada. Coloca-se de tudo lá dentro: viagens, quadros, roupas, passeios, encontros, lugares, times, esportes, habilidades, máquinas, carros e toda a sorte de objetos, principalmente os vistosos. E, estranho, o pote nunca fica cheio (nota: há coisas que aumentam o tamanho do nada). Há também os casos em que o interior é deixado de lado (já que nunca fica cheio mesmo), e passa-se a tentar resolver o efeito – a aparência – em detrimento da causa – o vazio. Pinta-se o lado de fora do pote, para disfarçar a falta de conteúdo. Esta tática, no início pode até funcionar; porém, basta chacoalhar o pote para saber que ele (ele mesmo!) está lá. Quanto mais barulho fizer o pote ao ser chacoalhado, maior o tamanho do nada lá dentro. Uma lástima.
E o efeito disto é tão curioso quanto triste: nega-se que há o vazio, como um louco nega sua loucura: a partir do momento em que admitir a existência da causa, está praticamente curado – a não ser que realmente goste da conseqüência. E de fato, (com o perdão do péssimo trocadilho) há loucos pra tudo...
Fanatismos esportivos, físicos, estéticos (adoração pelo lado de fora do pote, que teme exageradamente engordar, envelhecer,...), ânsia por aprovação, pseudo-intelectualismo exacerbado, violência, ganância, ambição excessiva, são algumas formas de manifestação do vazio – a lista é enorme!
A depressão, inúmeras vezes, é uma reação do pote à consciência do vazio. E, quão ardentemente deseja o pote voltar a seu estado de semiconsciência, onde bastava negá-lo e ele desaparecia momentaneamente de seus pensamentos!
Mas ele nunca desaparece de fato, nem nunca é preenchido com qualquer tipo de objetos ou negações, porque o vazio é gigantesco, é enorme. E todos os potes foram confeccionados com este vazio, feito para ser estancado...
Um vazio enorme, gigantesco, do tamanho de Deus.

8 comentários:

Viviane disse...

Reparaste já que a 'dimensão' do vazio é inversamente proporcial à consciência do pote em sê-lo? Os mais vazios são os que demorarão a perceber - se é que um dia perceberão - o que são, ou melhor, o que deixaram de ser. É interessante tu teres escrito isso, pois tenho sentimentos de balde sobre esse tema mas nunca o sintetizei tão brilhante mente como o fizeste. De tudo que podemos pensar sobre tal tema nos fica o mais importante: não temos de nos preocupar com nossos potes, estes transbordam...

Amo-te, minha coisa inteligente x)

=*

Viviane disse...

repara só o trocadilho "sentimentos de BALDE"

hauehuaheuah

nem eu havia reparado xP

Viviane disse...

brilhante-mente

Anônimo disse...

Ôpa, peraí!
Uma blogueira, caxiense? Que lê muito? Que tem opinião própria?
=O
Vai pros meus favoritos e é AGORA!

G.B.Bortoluzzi disse...

Que nos enchamos a cada dia...

Viva os abraços de antigamente,
viva não vergonha de dizer
que meu eu e teu tu sempre foram
cheios de vazios...
Enormes, do tamanho de Deus...

;*

B disse...

Bela imagem de topo, viu.

;)

Viviane disse...

Nada aqui! ¬¬

Anônimo disse...

Oi guria!
E aí, não mandou mais posts não?
Estou extasiada com teus textos. *-* Nem preciso te dizer o quão profundos e inteligentes eles são, certo? E eu leio já pensando "Nossa, concordo em gênero, número e grau!"..
Aproveite bem o frio daí, e saiba que eu usei regata hoje! :)