"Nenhum ser humano é capaz de esconder um segredo. Se a boca se cala, falam as pontas dos dedos..."(Freud)

sábado, 1 de março de 2008

Limpando o quarto

Limpando o quarto, encontramos de tudo: trabalhos antigos, provas guardadas, fotos perdidas, cartas escritas e nunca entregues, cartas recebidas e esquecidas... Mas o que mais mexe comigo é encontrar alguma coisa que eu tenha escrito - quando ainda gostava de escrever poemas - e sentir a mesma sensação de quando escrevi. Estes sentimentos intrusos são dolorosos e deliciosos, paradoxos como a saudades: doí mas é tão bom! Se não fosse, por que raios continuaríamos a guardar fotos e cartas antigas e, pior: a revê-las de tempos em tempos?
Pois eis que aí está o resultado da minha última faxina em meus papéis: coisas que escrevi e nunca assumi (ao menos não publicamente). Nenhum poema que eu possa vir a publicar foi escrito depois dos 17 anos completos, portanto, de antemão os advirto que não há relação alguma comigo. Penso que concordem que, passados alguns meses, rejeitamos o que escrevemos ou, no mínimo, fingimos que não está aí. Escrevemos cada dia mais na esperança de que ninguém tenha paciência para descer o mouse em direção ao fim do blog e - ora - não é que funciona? O problema é que quanto mais escrevemos, mais temos que suprimir com outros textos, e cosi via, não pára mais.
O que pretendo com isto? Mascarar minha total falta de vontade de escrever com as coisas que já escrevi. Simples assim.
Para escrever poemas é necessário uma pitada de tristeza, outro tanto de dor. Talvez um amor arrebatador - que só pode sê-lo enquanto platônico ou recente - possa substituir a dor e a tristeza, propriamente ditas. Mas, no estado em que estou, nem dor, nem tristeza e nem amores arrebatadores estão à vista, apenas, como diria Cazuza, "a sorte de um amor tranqüilo". Isto é maravilhoso para os meus nervos, mas confesso uma saudade impertinente da poesia...

********************

De poeta e de louco....

O poeta é um louco
De uma loucura passageira
Que, embora ele queira
Às vezes não passa...

Não importa o que faça,
Jamais vira gente,
Por mais que ele tente,
Poeta é outro ser...

...só sabe escrever.

5 comentários:

lélhens disse...

ah, dona Bruna! me comovi profundamente coma sua ansiedade pra saber o que ia acontecer no final e de repente topei com uma compentente versatriz! caraias! que graça de blog! vou escarafunchar os outros.

=}

Gina Emanuela disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Gina Emanuela disse...

Bruna...estou em conflito e seu texto ajudou-me a compreender o que sinto.

Falo exatamente dessa parte: "Talvez um amor arrebatador - que só pode sê-lo enquanto platônico ou recente - possa substituir a dor e a tristeza, propriamente ditas."

O meu amor tranqüilo se v~e ameaçado por um novo e arrebatador. Não sei o que fazer. Com tanta nervura, voltei a escrever...Algum conselho? :/

Achei lindo seu poema, viu? Bem singelo! rs

Viviane disse...

Adorei o poema, adorei!! Devo dizer que eu mal escrevo meus comprimissos na minha agenda, quanto mais poemas e textos... Essa coleção de blogs que hoje tenho, deve-se a uma epifania ligeiramente passageira que eu não consigo fazer com que volte, e é bom lembrar que foi causada por você e pelo meu ilustríssimo namorado. Mas voltando ao assunto, guardo muitas cartas e mal tenho tempo pra lembrar-me delas. Mas, quando vou limpar o quarto, dá um sentimento de nostalgia que, paradoxalmente, não me dão aquela sensação de querer voltar. Passado... só me faz lembrar que eu ainda não sei quem sou e vou demorar muito para descobrir, acho que todos, devido a mutabilidade dos nossos próprios 'eus'.

Te amo, mimada =*

Então...Amanda disse...

Ah! Estes textos ressuretos e estes poemas desavergonhadamente dolorosos um dia hão de acabar comigo...
Espero que tua inspiração poética nunca tenha o "Triste Fim de Policarpo Quaresma", para que tu continues a barbaramente escrever estes textos bárbaros.

Beijos